Oncologista
Olá amigas!
Estou me recuperando bem da cirurgia e me preparando para a quimioterapia. Preparar é um pouco forte, o estou fazendo mesmo é comer feito uma porca. Engordei mais de 1kg da semana passada para cá. Mas também, todo mundo que me visita aderiu ao projeto "enroliçem uma mulher sem mama", rs... Estando a comida tão a mão, quem resiste?
Não estou tomando mais o antibiótico e nem o flancox (antiinflamatório). A cicatrização da cirurugia está boa, fora um ladinho do mamilo que necrosou um pouco (isso é normal segundo o cirurugião, por mais estranho que me pareça principalmente depois da história cabeluda da minha mãe), meu peito está ficando bonitinho. Tenho que aguentar somente a válvula do expansor roçando em minha costela direita, mas no restante tudo bem. A parte interna do braço vive dolorida e a axila cabeluda nunca mais poderá ser depilada. Fala sério! Ninguém me avisou isso antes! Eu poderia ter feito um laser para evitar parecer uma macaca...Afe! Rs... E o cheiro estranho? Como não posso levantar muito o braço, imaginem como está a higiene do local? Rs... O desodorante nunca mais deu as caras por lá, rs...
Consequências da cirurgia. As pessoas às vezes acham que cirurgia é coisa boba e não falam o que realmente acontece depois. Os médicos esvaziaram minha axila e retiraram todo o conteúdo da minha mama direita, preservando pele e mamilo. Isso de retirar a axila foi uma medida de segurança para que o câncer não continuasse no meu corpo em algum dos gânglios. E o que isso gerou? Restrição dos movimentos do meu braço direito e fragilidade imunológica local. Em outras palavras:
- Nunca mais poderei dirigir um carro que não seja automático, sob pena do meu braço inchar e doer por dias. Mesmo eu podendo fazer qualquer movimento, nunca mais poderei pegar peso (meninos no colo) ou fazer qualquer esforço. Os gânglios ajudavam a drenar o braço e sem eles, a linfa fica acumulada, inchando e provocando dor. O lado bom disso é que virarei dondoca, rs, qualquer pesinho outra pessoa terá que carregar em meu lugar. Rs... Fora o carro...meu sonho se tornará realidade...rs...nunca mais passar marcha...rs...
- Nunca mais poderei tirar a cutícula da mão direita. Qualquer machucado poderia ser uma porta de entrada de bactérias que facilmente passeariam pelo meu corpo, visto que as defesas ganglionares não existem mais. Não gosto mesmo de fazer as unhas, tanto faz. Só me preocupou o fato de cozinhar...às vezes me queimo...
- Nunca mais poderei depilar a axila direita com cera ou gilete pelo mesmo problema. Só poderei apará-la com tesoura. Afe!
Tudo bem que esses "nunca mais" não são o fim do mundo... pensei em aprender a segurar os meninos no colo usando as pernas como aquela mulher que apareceu na TV, rs... Brincadeira... Não vou dizer que fiquei satisfeita com esses "efeitos colaterais", mas o que eu posso fazer além de sentar de chorar...rs...brincadeira...
Momento frágil. Inventei de conhecer minhas prováveis amigas perucas e fomos com os meninos a uma loja. Minha definição para o que vi: deprimente. A cada peruca que eu experimentava, o Dudu choramingava quase gritando para que eu a tirasse. Ele chorou quando me viu de peruca e eu também quis chorar, mas me contive. Tive medo das vendedoras que tentavam me animar como se elas me quisessem fazer mal. A culpa só podia ser delas! Fiquei irracional. Tive medo do que me espera... Saí da loja arrasada, não pelas perucas serem feias, eram até razoáveis, mas pelo pensamento de que eu ficaria careca. Eu, careca, de cara amarela... a figura da doença...a pena no olhar dos outros...o medo da rejeição dos meus filhos... Chorei muito e como criança eu gritava em pensamento com toda a rebeldia: Não quero ficar careca! Não quero ter câncer! Quero minha vida de volta! Mas descobrir um câncer não tem volta... Tenho que ir em frente...pensar nos meninos e tentar tirar proveito dessa situação. Será que ficarei muito feia? Se eu tiver coragem, coloco uma foto, rs...
Oncologista. Tive consulta com duas médicas, marquei e desisti de um médico "bambambam" (R$ 400,00 a consulta), não consegui falar com o quarto médico por ele estar viajando. Vcs me conhecem... A médica que escolhi é a que mais me atende embora eu não sinta confiança plena nela. Será que eu sentiria em algum médico? Até que não posso reclamar da minha sorte, pois a equipe que participou da minha cirurgia foi fantástica. Dr. João Bosco e Dr. Bruno Leonardo (mastologistas), Drs. José Adorno e Simão Pedro (plásticos) e outros excelentes profissionais que tenho como indicar aqui em Brasília.
A oncologista que não foi escolhida. A primeira onco foi indicada pelo meu mastologista. Era uma médica nova, simpatissíssima e por quem tive grande empatia. Ela era do tipo de médica “tudo é lindo”. Quimioterapia é simples como uma lavagem intestinal. Meu cabelo poderia nem cair... Isso me assustou... O que gostei nela foi que parecia muito atualizada e nos explicou tudo com a maior didática do mundo. O ponto negativo que me fez desistir: ela está grávida de 8 meses do primeiro filho! Sou mãe e não acho que por mais que ela tentasse conseguiria me dar a atenção que preciso.
Próxima candidata. Não gostei muito do rumo que ela deu a nossa primeira conversa. Enquanto a outra era "tudo vai dar certo", essa era "pode dar errado" e faremos isso, aquilo e aquilo outro. O Rubens me disse que teve vontade de sair correndo, mas com o decorrer dos dias ela se mostrou muito interessada e cautelosa no meu caso. Esperou até que saisse o resultado da biópsia da cirurgia para me explicar qual tipo de quimio eu teria que fazer. Mesmo assim, eu ainda estava em dúvida sobre ficar com ela e pedi a opinião do meu mastologista. Ele assinou embaixo da escolha o que me deixou tranquila.
Resultado da biópsia da cirurgia. Tive um bom resultado: de 12 analisados, nenhum gânglio estava comprometido. Ao todo foram analisados 15 gânglios e apenas 2 sentinelas estavam comprometidos. Outra coisa boa, nem a pele, nem as margens estavam comprometidas. Assim, a médica me disse que eu faria a quimioterapia e a hormonioterapia. Para começar a quimio, a médica está esperando o resultado do FISH que diz se tenho ou não a proteína HER-2 (o tumor é mais agressivo), o que mudaria a sequência das drogas.
A hormonioterapia é um tratamento que me deixará na menopausa, pois tomarei bloqueadores de estrógeno e progesterona. Esses dois hormônio é que fazem o tumor que tive crescer e ao descobrir isso perguntei à médica se a gravidez teve algo a ver com isso. Ela me disse que com certeza as gravidezes, com a carga altíssima desses hormônios, contribuíram para o crescimento dos tumores. Daí, eu perguntei há quanto tempo eu devia ter câncer e para meu desespero ela disse: há uns 5 anos ou mais. Ou seja, quando engravidei já tinha câncer! Caracas! Mas pelo que ela disse eram tão pequenos que não podiam ser detectados.
Aí pensei na minha sorte. Que bom não descobri antes, pois talvez eu não pudesse/quisesse engravidar. Talvez nunca me tornasse mãe. A ignorância me trouxe meus meninos e não os trocaria por diagnóstico nenhum. E o melhor, são meninos, não terei preocupação com eles terem câncer de mama. A vida é perfeita mesmo! Rs...
São Paulo. Estou numa fase do tratamento em que muitas pessoas têm alguma opinião para dar e a que mais ouço é: vc deveria ir à São Paulo. Os médicos daqui não prestam e te passarão um tratamento aquém do que vc precisa. E blá, blá, blá... Isso estressa demais, pois se eu for a 10 médico, terei 10 opiniões diferentes. Assim, meu médico maior e em quem confio continua sendo o Dr. Google cuja consulta não custa mais que R$ 2,60 a hora, rs... Fiz as contas, rs....
Por exemplo, minha médica disse que não terei que fazer radioterapia, aí grilei... Uma amiga não fez e o câncer voltou com 1 ano. O que fiz? Fui procurar no Google e pelo manual da Sociedade Brasileira de Câncer realmente o meu caso não tem indicação. Continuarei procurando mais.
Aqui em Brasília tem uma frase muito usada:
- Em Brasília o melhor médico é a ponte aérea.
Dá para não estressar? O Rubens acha que deveríamos procurar uma terceira opinião em SP. Não sei...
Beijos e volto com mais informações.