Sem internet
Olá amigas! Fiquei sem internet por vários dias e por isso não dei notícias.
TratamentoEstou ótima e nem parece que há menos de uma semana eu sofria os efeitos colaterais da quimioterapia. Engraçada essa história de parâmetros... depois de dias me sentindo mal, dor em tudo quanto é parte do corpo, fraqueza e apatia, ter de volta saúde é como recuperar a própria vida. Como dizem, a gente só entende de fato o valor da saúde quando ela nos falta. E como me fez falta...
Resumindo a quimioterapia, posso dizer que é uma ressaca sem o benefício da bebedice. No meu pior dia eu prometi que nunca mais faria quimio, que fugiria se preciso, mas aquela coisa ruim eu não passaria de novo. Imaginar as oito sessões seguintes foi desesperador e pensei por que eu tinha que passar por isso, blá, blá, blá. Sabem aqueles pensamentos ruins na hora do desespero do corpo com dor? Nem eu me reconheci tamanha a revolta, tive raiva de ter câncer... Não consegui fazer a respiração que aprendi na meditação, pois respirar fundo doía. Pensei: dane-se essa meditação, nada estava bom, nada de dormir, só agonia e nada de amanhecer. A ressaca foi do quinto dia até o oitavo da primeira sessão de quimioterapia. Senti tonturas, muita fadiga e cólicas que depois viraram dor de cabeça, alergia na pele e dor nas juntas/ossos. Tomei cinco injeções de granulokine no sétimo dia visto que meus leucócitos chegaram a 1.600, enquanto o normal é 12.000. O efeito colateral das injeções foi a dor nos ossos da bacia, assim, dá-lhe Tylenol. Junto com as injeções, a médica passou um antibiótico sinistro (Cipro) que segundo a bula serve até para Antrax, aquela arma biológica que aparece nos filmes, rs... Pensem num antibiótico caro? R$ 150,00 para sete dias!
O Rubens precisa entrar de sócio na farmácia local de tanta droga que tenho que tomar. Tomo um remédio que serve para tal, mas dana alguma parte do corpo. Aí, tomo outro remédio para a parte afetada pelo primeiro remédio. Contudo, o segundo remédio degringola outro órgão e assim caminha a humanidade...rs... Tive que esvaziar uma gaveta da penteadeira, antes ocupada por perfumes e bijus, para dar lugar às caixas de medicamentos.
Cai Não Cai. Minha mãe está me animando bastante com a brincadeira Cai Não Cai. Todo dia me telefona e pergunta: E aí? O cabelo já começou a cair? Por pouco a pergunta não é: Afinal, seu cabelo cai ou não cai? Bem que o meu cirurgião perguntou se minha mãe era a meu favor ou contra mim, rs.... O melhor é que ela veio aqui em casa me convencer que todas as suas atitudes perturbadas se justificam pelo fato dela ser minha mãe. Posso? Rs...
Falando em cair, o cabelo está despencando e já pensei em algumas doideras para conservá-los , rs... Parar de passar as mãos nos cabelos, coçar a cabeça de jeito nenhum, nunca mais penteá-los e deixar de lavá-los. Meu colega fez “dreds” e ficou dois meses sem lavar os cabelos. Por que eu não poderia fazer o mesmo? Rs... Passar uma super bond daria certo... Até para colocar o cabelo atrás das orelhas o faz cair.
Por enquanto, estou fingindo que meus cabelos caem por algo hormonal como após o parto. Estou tentando me enganar por mais algum tempo por não ter criado coragem suficiente para raspar a cabeça. Ah!
Presente. Estou muito feliz por ter recebido um presente dos meus colegas de trabalho. Foi tocante o gesto de generosidade dos que considero meus irmãos. Trabalho com aquela gente há dez anos, os conheço tanto que sei só de olhar para a cara, se algum deles está com problemas. A convivência me fez querer bem a todos e adorei saber que o sentimento é recíproco. Com a doença, vi a preocupação, o pesar e o cuidado que meus colegas têm comigo. Eu me senti importante com o carinho e segundo o Rubens, poderia até me eleger deputada, rs... Por enquanto, estou pensando no que fazer com o presente...
Afazeres. Os meninos ficaram sob os cuidados da sogra, da Mãe-Maria e do Rubens nos dias em que eu não agüentava “uma gata pelo rabo”. Como foi bom eu voltar a me sentir bem, conseguir banhar os dois ao mesmo tempo, escolher e trocar suas roupas, dar-lhes comida, escovar seus dentes, brincar de “bicho cabeludo” e de pula-pula na cama deles, arrumar suas gavetas e brinquedos e pegá-los no colo. Isso mesmo, dar colo aos meninos usando o braço esquerdo. Como apreciei ter saúde de novo, ter energia para viver. Até fiz faxina nuns armários, coisa que eu precisava fazer desde a mudança. Maravilha mesmo! Agora, minha vida está planejada de acordo com os dias da quimioterapia. Continuarei a faxina até quinta-feira, quando farei mais uma sessão.
Meditação. Continuo no curso de meditação e a cada aula, percebo que aquilo não é a minha praia por mais que eu tente. Juro que estou tentando, mas devo ser deficiente espiritual ou muito boa da cabeça para acreditar naquelas coisas tão estranhas, rs... Nossa última aula começou com a frase: podemos mudar o mundo? Pensei, caramba, eu realmente não tenho a mínima vontade ou vocação para mudar o mundo. Sei lá, sou mais da filosofia do “viva e deixe viver” que “vc precisa mudar sua vida por isso ou aquilo”. Meu problema é que penso demais... por isso aconselho, se alguém quer ser espiritualizado, pare de pensar demais, rs... Pelo menos essas aulas estão me ajudando a respirar e acalmar a mente. Fora que conheci um pouquinho do espiritismo e de religiões orientais, principalmente indiana, a base da meditação pranica. Que seja, como diz meu irmão: cada um no seu quadrado, rs...
Dudu versão 3 anos. O menino está meio rebelde e para tudo ele franze a testa, faz bico e diz: Não quero! Antes conseguíamos levá-lo na conversa, mas ultimamente o menino não aceita ser contrariado e quer tudo agora. Em geral ele reclama, mas também grita e choraminga para fazer as atividades mais básicas como comer, tomar banho ou escovar os dentes. Tudo que dizemos para ele fazer, o menino se recusa de graça. Quando é contrariado logo responde gritando com raiva:
- Estou muito blavo com vc mamãe!
- Não quero mais vc, mamãe!
- Doga! (droga)
O menino só faz as coisas se carregado ou ameaçado de castigo e por mais que a gente converse ele não sede. Tem dias que é muito desgastante, pois o menino chora, grita com a avó, berra, arremessa os brinquedos, passa o dia inteiro num mal humor irritante. Quando a teimosia é com brincadeira e alegria eu tolero, mas quando entra em cena o “menino nervosinho reizinho da casa”, aí não agüento. Lá pela hora do jantar a paciência morreu sobrando inclusive palmadas. Afe! É muito desgastante! Será que isso é normal? Dos dois anos até antes dos três tudo estava tão legal... li no livro Criando Meninos que esse comportamento nervoso é típico dos três anos.
Passando vergonha. Sabem aquelas cenas que a gente vê com o filho dos outros dando birra em pleno aeroporto ou supermercado e dizemos para nós mesmos que um filho nosso não faria tal coisa? Pois é. Quanto pior nosso julgamento, maior nosso castigo. Rs... Minha prima foi me visitar com seu filho da idade do Guilherme numa tarde para levar o presente de aniversário do Dudu. O Guilherme estava dormindo e o Dudu brincando com minha sogra. Era um dia de mal humor de cão no menino. Minha prima deu o presente e até ai tudo bem, o Dudu agradeceu e adorou. Nem lembro porque o menino começou a berrar com minha sogra por causa de algum brinquedo. Depois começou a gritar com o filho da minha prima por ciúme de um brinquedo. Com alguma conversa e enrolação parecia que o Dudu havia esquecido. Continuei conversando com minha prima quando o “reizinho da casa” bradou:
- Mulheles! Palem de falar! Parem de falar!
Isso num tom ofensivo e impróprio para uma criatura de três anos. Um moleque desse tamanho mandando a mãe e sua visita calarem a boca. Na hora não me toquei desse fato, falei para ele brincar lá fora e foi a minha sogra carregando o menino que esperneava e berrava. Que vergonha! Depois que minha prima se foi, ficou a vergonha. Aí tive raiva. Conversei sério com o Dudu, falei o que ele não poderia fazer mais e o que era para ele fazer. O menino fez um cara de emburrado e logo briguei para que ele desfizesse a cara ruim. Eu ainda estava nervosa quando ouço a pérola da minha sogra:
- Ele fez isso para chamar a atenção.
- Não interessa, ele foi muito mal educado e me fez passar vergonha. Não vou tolerar esse comportamento de novo.
Para todo comportamento ruim do Dudu minha sogra arruma uma desculpa. Ela chegou ao cúmulo de dizer ao Dudu que ia orar para o Rubens não dar-lhe palmadas. Perguntem se agora o Dudu sempre que leva umas palmadas não faz um drama chamando a batchan para orar?
Outro dia o Dudu aprontou e o coloquei de castigo. Ele ficou reclamando, choramingando e gritando no castigo quando eu o perguntei porque ele estava ali. Ele disse que não tinha feito nada. Nesse dia eu me enfezei e avisei que ele ficaria de castigo o tempo suficiente para reconhecer seu erro. Deu certo e com duas vezes o menino parou com essa de não fiz nada.
- Dudu, o que acontece quando vc desobedece ou faz algo errado? Perguntei ao menino.
- O peixe me engole e eu vou para a barriga dele. Falou o Dudu.
- O quê? Que história é essa?
- Foi a batchan que disse.
- Essa é outra história que não tem nada a ver com o que vc fez.
- Batchan! Não tem nada a ver com o que vc me disse! Gritou o menino com a avó.
- Dudu, quando vc desobedece, vc fica de castigo e pronto.
Minha sogra contou ao Dudu como Deus foi impiedoso com a desobediência de Jonas mandando que um peixe o engolisse. Pensando bem, foi até engraçada essa história do Dudu achar que seria engolido pelo peixe, pena que não surtiu efeito para conter o menino. Acho que uma punição real como um castigo dado pelos pais é melhor compreendida que um peixe que engole uma pessoa inteira. Rs... Parece que o Dudu é cético como os pais, rs...
É difícil educar uma criança com os avós por perto... Minha sogra deu uma melhorada depois que o Rubens discutiu feio com ela depois de um evento em que ele foi aplicar umas palmadas no Dudu e ela se colocou na frente. Nesse dia, a coisa ficou feia, pois o Rubens não teve papos na língua, soltou o verbo em cima da mãe. Se o Dudu bate no Guilherme, minha sogra diz que é por ciúmes como se isso o justificasse. Se o Dudu arremessa os brinquedos chorando e berrando é por que está com sono. Se o Dudu choraminga e grita é porque está com sono. Para cada mal criação, a criatura apresenta uma desculpa sem deixar o menino assumir a culpa de seus atos. Um dia de manhã, o Dudu acordou de mal humor reclamando e a Mãe-Maria disse a ele que não poderia agir assim, aí o menino incorporou a minha sogra e falou sua desculpa:
- Estou cansado!
Ao ouvir isso me deu raiva da sogra, pois nem era 9h, o menino acordara a pouco, como estava cansado? Mas deixei pra lá.
Depois de um dia inteiro ouvindo a perturbação do Dudu e as desculpas da sogra para tal dá um nervoso.... Mas não reclamarei pois não sei o que seria de mim sem ela.
Tudo que o Rubens faz em relação a disciplina dos meninos eu apóio, pois ele cuida o tempo todo das crianças da hora que acordam até a hora de dormir, passa a madrugada vendo se estão com calor ou frio, uma tosse basta para que ele se levante e vá acudir os meninos, faz mamadeira para um, leva o outro ao banheiro e assim vai a noite toda. Se ele fosse daqueles pais que só pegam o filé dos filhos e ainda assim quisesse castigá-los, eu seria a primeira a não deixar. Mas como ele é um pai cuidadoso e presente, confio que ele conheça os meninos o suficiente para saber se precisam de palmadas ou não.
Novo ritual do sono. Após jantar, os meninos dão seu gás final antes de dormir pulando como loucos nas camas. Pulam, pulam, pulam, o Dudu não para de rir e nem de pular. O Guilherme pula alto e senta de uma vez morrendo de rir. Eles sobem na cabeceira da cama e nas grades do berço. Parecem macacos-pipocas em cima das camas. O exercício é tão intenso saem pingando de suor para o chuveiro num banho conjunto de muita risada e bagunça. Depois de arrumados, remédios e água tomados, o Rubens pega uma lanterna e um livro para dormirem. Escuto a empolgação do meu quarto, de luz apagada, o Rubens conta a história dos três porquinhos usando a lanterna. Depois de algum tempo, os anjinhos dormem e a casa mergulha no silêncio. Fim de uma noite que deu certo.
Na maioria das vezes o Rubens acelera o processo de dormir levando os meninos para passear de carro. Um péssimo hábito, mas que funciona, portanto...
Alergia. O Dudu teve uma reação alérgica forte a uma massinha de modelar da marca PLAY-DOH vendida na FNAC. Compramos no sábado à noite e no domingo de tarde percebi que o menino estava todo empolado: braços, pernas, barriga, costas e pescoço com umas bolinhas pequenas. Não sabíamos se era alergia ou virose pereba de crianca e demos mesmo assim um anti-alérgico. Na segunda-feira, os dedos estavam com bolinhas e a palmada da mão descascando como se bolhas tivessem estourado. Os dedinho do Dudu estão feridos com rachaduras e tive que fazer curativos com gaze e esparadrapo. O menino sente muita dor quando lava as mãos ou pega em algum alimento ácido ou salgado. O dermatologista falou que era alergia e mandou dar Hixizine e passar desonol. Contudo, nas rachaduras estou passando um óleo cicatrizante chamado Dersane. Os dedinhos do Dudu estão abrindo um por um e toda a hora ele arranca os curativos ou suja as mãos. Sei lá, mas não estou vendo uma melhora significativa ainda. Vamos ver.
Beijos a todas e obrigada pelo carinho.